terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Reflexão do EU - Livro Parte I

Quando Criança eu sentava no pátio que ficava no segundo andar da minha casa, de lá eu tinha uma visão privilegiada das pessoas no seu indo e vindo diário, como se tratava da rua central o povo que formava aquele espaço vinha de todos os lugares, por isso eram pessoas iguais e diferentes ao mesmo tempo, jeito, feições, gestos, cores, costumes, oscilava entre o igual e o diferente. Todos os dias eu ficava horas a fio, olhando aquelas pessoas, suas maneiras de caminhar e de cruzarem uns pelos outros, para onde iam, seus horários e encontros casuais, e eu ficava ali olhando tudo de cima, depois de um tempo tornaram-se meus conhecidos até nomes eu dei a cada um deles. Tinha o Seu João, homem de aproximadamente 50 à 55 anos, cabisbaixo, usava quase sempre uma calça bege e uma camisa azul surrada, que o branco já se destacava do azul que aos poucos sumia, saía sempre detrás dos casarões da esquina e vinha lentamente, impreterivelmente as 7:00 h passava diante de mim, nunca me notara, vivia num mundo de 1metro, sua alma jazia por trás das lentes fundas dos óculos que lhe serviam para clarear melhor o seu horizonte limitado. Seu João parava algumas vezes para entrar na padaria do seu bigode, homem de estatura mediana de cor morena e carranca fechada, era dono da padaria há muito tempo; falava alto e gesticulava bastante com os filhos, dois jovens adolescentes, sua esposa, mulher faceira, bonita e vaidosa a julgar pelas roupas que vestia, as vazes um pouco extravagante para os padrões da época. Seu João quando saía da padaria do bigode cruzava sempre com as mesmas pessoas, mas nem notava porque seu olhar era sempre pra baixo, a não ser o Toti um ancião alcoólatra que passava as noites na calçada da padaria e quando o Bigode abria o comércio, ele se arredava para o lado e ficava ali pedindo esmolas para poder comprar um pedaço de pão, uma xícara de café e o que sobrasse, já lhe servia para o álcool. D. Laura praticamente batia ombro com ombro com seu João, ela era uma das pessoas que entrava na padaria na mesma hora que ele saía. D. Laura era uma mulher de seus 35 anos, andava rápido e falava com a vizinhança, ficava horas nas portas e janelas falando de seus problemas e magoas, quando falava de alguém, havia sempre um ar de desdém em seu tom de voz, seus olhos tinham um brilho diferente, pareciam sempre espreitar cúmplices para suas estórias. O movimento na rua era intenso todos se cruzavam sem se olharem, caminhavam em busca de algo freneticamente e nem percebiam que cruzavam centenas de vezes com as mesmas pessoas sem as conhecê-las. E eu me perguntava, por que o mundo vive como zumbis ?,

Ainda hoje fico olhando as pessoas nos seus vai e vêm da vida, suas buscas constantes por algo que nem mesmo elas sabem o que é, seus conflitos pessoais, suas duvidas e magoas, um verdadeiro baile a fantasia, todos mascarados fingindo ser um personagem para que possam ter direito a entrar e participar desta festa chamada vida.
Foi olhando essas vidas, que me interessei por relações humanas, pensei, tudo isso pode ser diferente? e constatei o quanto precisamos despertar deste sono que nos entorpece e nos faz caminhar como sonâmbulos, isso então me levou a escrever...
“ A Reflexão do EU”

Nonato Santiago





A FELICIDADE.

Buscamos através do tempo encontrar a felicidade dentro da vida, somos cobrados a encontrá-la, cobrados por pessoas que nunca à viram, mas que também usaram todo o seu tempo em busca da mesma coisa, criaram mecanismos e regras de sobrevivência para mascarar suas frustrações e derrotas, pessoas que vem até nós dizendo como devemos fazer para encontrar algo que eles não conseguiram. É como uma grande caverna feita na rocha, insegura e perigosa, assim nascemos no meio de milhares de seres que se empurram, se batem e lutam todos os dias, caminhando desesperados em sua busca do desconhecido, consciente ou inconscientemente correm atrás do mais valioso tesouro que acham estar escondido aqui nesta vida, um tesouro chamado felicidade. Mas o que é felicidade? Será algo que eu possa entender, sentir ou ver, o que será a minha felicidade, o que a compõe e em que estagio eu me encontro?, estou perto ou longe?, nos olhamos no espelho e enxergamos uma mascara, com sorrisos amarelos dizendo ser feliz, baseado-se em valores criados por uma sociedade repleta de sonâmbulos, valores que nos entorpecem e que por detrás da mascara não nos sentimos cheios e satisfeitos, na contramão da nossa luta diária encontramos pessoas que já estão voltando do lugar que buscamos chegar um dia, olhamos em sua bagagem e não encontramos a felicidade, são pessoas que conseguiram tudo aquilo que julgamos ser necessário para a auto realização e conseqüentemente a felicidade, coisas como, dinheiro, saúde, juventude, prestigio, reconhecimento, beleza, poder, tudo que todos buscam e poucos conseguem, mas encontramos muitos destes poucos voltando desvairados, quase que enlouquecidos, trazendo nas bagagem, dores, desilusões, drogas e suicídios, exemplos temos muitos, grandes mitos que foram ícones dentro de gerações acabaram assim, por que então continuamos essa luta incessante neste caminho?, temos contra nós uma estatística maldita, de muitos, poucos conseguem, e os que conseguem não vemos a felicidade no meio dos seus pertencem, porque então nos permitimos essa loucura nas nossas vidas? Cada passo nesta direção nos entorpece e nos perdemos cada vez mais por detrás das mascaras, nos tornamos dormentes a vida e ela se torna cada vez mais sem cor, e nem o espelho me diz mais nada, pois não entendo o reflexo que vem cada vez que estou ali diante dele não me sinto não me reconheço, então estou perdido e sem a menor consciência da minha existência. E o olhar acinzentado tira o foco da imagem real, nos deixando escravos de Maya, das ilusões, e ai me lembro o que escreveu Cecília Meireles.


A arte de ser feliz
Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma regra: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que as coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para vê-las assim."
"A arte de ser feliz"Cecília Meireles

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